Esse processo do despertar espiritual começou em mim há uns cinco anos.
Ele começou em uma época da minha vida de "entresafra", quando
terminava um ciclo de projetos e me via, mais uma vez, perdida no vácuo.
Sempre vivi dentro de uma sucessão de ciclos sem fim,
buscando por uma realização interna que nunca chegava. Normalmente, eu acabava
um e já iniciava outro ciclo, ininterruptamente. Mas dessa vez foi diferente.
Nesse "the end", veio uma tristeza muito grande, um desconforto e uma
ansiedade sem fim e comecei a ler, a ler, a ler sem parar. Foi quando começou
meu processo de despertar para a espiritualidade.
O despertar inicial foi aquele momento em que olhei
para mim mesma e não me enxerguei mais, não me reconheci mais. Enrolada no meu
mundo egoico, focada no exterior, eu vi que havia algo errado em minhas
atitudes e pensamentos e logo pensei: "Porque estou fazendo isso,
repetindo padrões sem parar? Essa não sou eu. Mas então, quem sou eu?".
Esse chamado interno era uma voz que vinha de dentro me chamando para me
descobrir, me curar e me libertar.
Para a maioria, o despertar inicial é devastador. É
como uma onda de luz que devagarinho vai iluminando todo o coração, fazendo
enxergar toda a poeira que ali se encontra. E aí, após esse olhar de luz,
gradativamente, começa a cura, começa a limpeza interna. Uma limpeza sem fim,
que não acaba tão cedo.
Muitos se perdem nesse momento, muitos querem sair
desse jogo mas não sabem o que fazer. Eles continuam sendo bombardeados por
todos os lados dizendo que precisam fazer a vida, ganhar isso, ter aquilo. Mas
eles já não são mais os mesmos. Sabem que não é bem assim, sabem que existe uma
maneira diferente de viver, mais harmoniosa, mais consciente. Muitos acabam
cedendo à pressão externa, acabam se deixando levar por essas energias
hipnóticas e se inserem novamente nos meios caóticos da vida.
Mas o chamado não para, ele continua ardendo e
aquela voz interior grita querendo ser ouvida. Então essas sementes acabam por
cair em terra, ficam tristes e depressivos, se forçando a ser algo que sabem
que não o são. Ficam confusos entre ouvir o que lhes é dito e ouvir a voz que
vem de dentro, a voz do coração.
Pouquíssimos continuam o processo de despertar no
sentido da iluminação porque é um processo muito difícil. É raro encontrarmos
pessoas interessadas nesse despertar para podermos interagir, conversar,
aprender. Não há ninguém entre a família, entre os amigos, entre os conhecidos
para compartilhar. Na minha opinião, o mais difícil é essa sensação de estar
desconectada com o mundo exterior, de isolamento.
O mais difícil e o mais gratificante, porque é no
isolamento que você descobre a sua luz interior, a centelha divina que existe
dentro de você. Que é autosuficiente, que te alimenta, que te cura. É quando
você descobre a delícia de amar a si mesma na solidão, sem ninguém ao seu lado.
Só quem passa por isso, só quem abre os olhos do coração e desperta é que pode
viver essa sensação maravilhosa de plenitude.
Acaba todas aquelas eternas insatisfações materiais
da alma. Eu quero viajar mais, eu quero morar naquela casa, eu quero um salário
maior, eu quero aquele carro, eu quero aquele homem, eu quero fazer isso, eu
quero ser assim, eu quero, eu quero, eu quero. Ao invés de milhares de "eu
quero" para um futuro tão incerto, eu digo só um "EU SOU..EU SOU O
QUE SOU". Essa afirmação traz toda a vibração da abundância para o
presente, para o aqui e agora.
Uma vez perguntaram ao mestre Buda porque tão
poucas pessoas iluminadas existiam. Será que é tão difícil assim perceber a
própria iluminação?
Buda respondeu:
“Faça uma experiência. Vá ao
vilarejo mais próximo e durante todo o dia pergunte a diversas pessoas o que
elas mais querem na vida”.
Eis que o discípulo foi e voltou no fim do dia para
falar com o mestre.
"Conversei com muitas pessoas. Muitas
respostas. Algumas querem um bom casamento, outras desejam muito dinheiro,
outras almejam fama e poder, e ainda outras querem prestígio, reconhecimento…”
Então Buda respondeu:
“Já tens tua resposta. Muito
poucas pessoas desejam a iluminação que é simplesmente uma vida natural e
simples. Tão natural que a paz que procuram já está no vento que sopra, no ar
que respiram, na nuvem que passa, no sol que aquece, e na chuva que molha”.
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