Acho
os astrólogos corajosos, dedicando horas e horas, dias e dias em previsões,
fazendo milhões de cálculos complexos, sendo pressionados e cobrados pela
mídia. Adoro
a linguagem das estrelas, mas para autoconhecimento e não para previsões.
Tensa, ansiosa, preocupada com os meus erros e acertos, acho que tinha perdido a festa. Perderia o espetáculo, não veria o show, não escutaria a música que tocava. Prefiro gastar esse tempo aumentando o som do meu coração, entrar na festa, tirar o pé do chão, me matar de tanto dançar nas incertezas e celebrar o momento, o agora e não um futuro incerto.
O
bom não é estar na frente da vida, é estar dentro dela. E se entregar ao acaso,
ao imprevisto, à surpresa. O mundo é uma escola, a vida é um circo. Prefiro ir
para a avenida desfilar a vida e deixar o amanhã dizer o que ele quiser.
Os
astrologos sérios jogam muita bola. São ótimos jogadores, desviando de dribles,
evitando faltas e pênaltis, se preparando para as rasteiras imprevisíveis que
vêm dos céus e que deixam todos atônitos. Assim mesmo eles ainda são pegos de
surpresa.
Acho
que as bolas na trave, os erros nos cálculos, nas previsões, em tudo na vida,
vêm para isso, para reafirmar o dedo de Deus em tudo. Quem faz astrologia sabe
disso que mistério da vida é maior que ela. Não dá para a gente brincar de ser
Deus. Mal conseguimos brincar de ser gente mesmo.
A
dança dos astros tem passos descompassados, imprevisíveis, deixando todo mundo
tonto, dando tombo em muita gente grande que dança bem a vida inteira e é
difícil decifrar os seus humores.
O
Sol pode não estar em um dia muito iluminado. A Lua é de veneta, muda de humor
toda hora. Mercurio pode ficar só falando sem parar e não fazer nada. A Venus
quem sabe esqueceu da vida e ficou muito tempo no espelho. O metidinho do Marte
pode não ter dado tudo o que prometia. Jupiter pode errar a mão e expandir para
o lado contrario. Saturno nem se fala, é o temperamental, o carrancudo. Netuno
confunde mais ainda. Urano é mestre em dar rasteiras e surpreender e Plutão,
então é o misterioso, pode te puxar para baixo.
Acho
que, afinal, o que está escrito nas estrelas só elas sabem. Fecharam a boca com
sete chaves e não contaram nada pra ninguém. Ainda bem. É bom não saber de
tudo. É
bom não saber pra que lado vai a vida.
Onde Deus
passa nada embaraça...
Conversa
de "Preto Velho"
-E
esse eclipse aí, o que podemos esperar, Vô?
-Esse
u que, fio?
-Eclipse,
Vô. Esse momento em que a Lua fica bem entre a Terra e o Sol, tapando a luz do
Sol completamente para quem se encontra em algumas regiões do mundo.
-Sim,
fio, nome bunito, né, fio? Ecripissi...
-É,
Vô. A gente pode esperar algo de novo por aí por conta da raridade de um
momento desses, Vô?
-Até
pode fio, num sabe?
-Que
tipo de coisa, Vô?
-Diga
uma coisa pru véio aqui, fio. Cumé qui chama aquilo que ocêis faz no computadô
pra ele começá tudo de novo?
-A
gente "resseta" o computador, Vô!
-Então,
fio. É pra isso qui servi o ecripissi, fio. Resseta tudo, fio. O que tava
atrapaiando sai fora e só u qui presta fica. Serve pra isso, fio. Serve pra
isso.
-Interessante,
Vô!
-Mas
zóia, fiu. Vale isso também pra dentro de cada um doscêis, entende? O que não
presta, o que tá atrapaiando, vai-se imbora para o que presta ter vez de novo,
num sabe? O que num presta mais em vosso mundo vai sair de cena, fio. O que
presta vai crescê e ficá, pra dá seus frutos, entende? É isso. Ecripissi é
isso, fio.
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