Até porque sempre fui meio desligada disso. Em tudo eu perco a hora, eu desligo do tempo, eu esqueço da vida. Aos 64 anos, é bom poder ser quem eu quizer, é bom não precisar de mais nada.
Olha como tudo muda. Quando mais jovem, fui louca por moda. Seguia tudo, adorava tudo. Depois enjoei, me afastei e hoje me considero uma analfabeta em moda. Agora visto como quero, como gosto, como me dá na cabeça. Não vejo mais revistas, não olho mais nada e nem sei mais quem é o estilista da hora.
Parei de subir no salto, deixar uma fortuna na loja, no cabeleireiro, na perfumaria. Passei a ir pra feira hippie, pro camelô, pra cabeleira amiga da esquina. Há muito tempo que me visto totalmente livre de modismos, de regras. Desencanei e é aí que o melhor da vida acontece.
Eu penso que nós temos de criar a nossa própria diversão e eu me divirto em me vestir não com moda, mas com alegria. Sempre achei que ela junto com a criatividade é o caminho pra se realizar.
Sempre procuro nas pessoas mais velhas onde está a luz e ela está sempre nos olhos. Tem gente que envelhece e a luz nos olhos se apaga. E tem aquelas que ganham anos com vibração, com alegria de viver, com desejo no olhar. Aí eu penso cá com minhas tintas...é assim que eu quero ficar.
Joseph Campbell no livro "A Jornada do Herói" escreveu assim...
“Estou cada vez mais convencido de que a ideia indígena sobre a renúncia na velhice é uma ideia muito boa. A gente abandona qualquer sistema de compromisso e apenas vive do momento presente e das necessidades desse momento, porque, Deus, você deu tudo o que era necessário dar, e sua vida já provou a que veio. Tudo o que se pode acrescentar a isso agora é apenas uma nota de rodapé. E essa não é mais uma época para fazer notas de rodapé. É a época de desfrutar a experiência de preenchimento. É um momento de preenchimento. E é um momento rico e belo. Alguém me perguntou: - O senhor gostaria de ser mais jovem? Eu respondi: "Sim, eu gostaria de ter setenta e um anos. Eu não gostaria de recuar mais do que isso no tempo”.
Um dia a Marina, uma netinha de 3 anos, agarrada em mim dentro da piscina disse assim...”Nossa, a vovó parece um algodão doce”! Nós rimos e perguntamos porque. Ela disse que era porque eu era muito macia, muito molinha. Por fora e por dentro, é assim que eu me sinto...amaciada.
Sempre quando um ano vai terminando, eu tenho essas reflexões sobre o tempo. Tenho pensando muito sobre isso e concordo com os indígenas. Eu não gostaria de recuar mais no tempo e não quero mais fazer notas de rodapé. Agora é a hora de viver o presente e buscar esse momento lindo do preenchimento. Agora é a hora de viver o agora e desfrutar esse momento doce de virar um algodão doce.
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