De uns quatro anos para cá, estou em um redemoinho, vivendo
constantemente muitas transformações, muitas mudanças. Quando eu acho que
eu já liberei um monte de crenças e padrões antigos, eu reconheço mais outro
tanto deles para liberar.
Uma das coisas que eu reconheci enganosa e equivocada em mim, foi a respeito da
minha forma insegura de me expressar no mundo social lá fora. Quando eu
saia de casa, eu pegava minha bolsa e a minha máscara e vestia muitas vezes um
personagem qualquer, idealizado por mim. Entrava no palco com ele e
representava a minha peça teatral da melhor forma que eu conseguia.
Mas eu não tinha consciência desse personagem, de tão automatizada
que eu estava em não me revelar realmente como eu era. Hoje eu vejo que a minha
forma de me apresentar ao mundo lá fora, muitas vezes tinha a ver com uma baixa
autoestima e com o medo. Medo de sofrer, medo de ser criticada, medo de não ser
amada.
Em uma época da minha vida eu era totalmente voltada pra fora,
tentando me encaixar nesse quebra cabeça enorme do planeta e encontrar o meu
lugar no mundo. A minha personalidade sempre foi social, mas muitas vezes me
embananava com a minha insegurança.
Eu me lembro bem das inúmeras vezes que eu me sentia
desconfortável em várias situações. Sabe o que eu fazia? Eu ignorava. Meu
coração gritava e eu fingia que não ouvia. E continuava tendo as mesmas
atitudes com os mesmos desconfortos, por muitos e muitos anos. Afinal, porque
algo que eu amava tanto fazer, me trazia tanto desconforto?
Tantos anos assim, não querendo mexer nessa minha insegurança
diante da vida, acabou criando um monte de padrões negativos que traziam sempre
situações repetitivas. Só agora, com muito auto-conhecimento, estou conseguindo
liberar aos poucos. E soltar isso não é fácil, não é mesmo.
Se eu bobear, eu caio de novo, de novo e de novo no mesmo buraco,
repetindo as mesmas atitudes e colhendo os mesmos resultados. Isso definitivamente
eu não quero mais pra mim. Foi uma decisão muito forte essa que eu tomei de não
me repetir mais nisso.
O que teve que acontecer então, para eu conseguir viver e não
boicotar esse meu processo de morrer de um jeito e renascer de outro? Tive que
acelerar o meu conhecimento de mim mesma e procurar ver onde eu projetava as
minhas carências.
Criando um monte de atividades lá fora, eu vestia um personagem
social inseguro, amendrontado. Hoje eu vejo que essa minha busca compulsiva por
estar sempre fazendo algo fora de mim, no fundo no fundo era uma baita fuga de
mim mesma. Parece que eu tinha sempre que provar algo para mim e para o mundo,
criando um monte de projetos e planos que nunca acabavam.
O antídoto para a doença seria então fazer o contrário. Parar de
correr atrás de alguma coisa e fazer um pitstop no box para arrumar a
engrenagem. Voltar para dentro de mim mesma e esquecer o mundo lá fora por um
tempo, até eu me fortalecer e ganhar confiança. Eu tive que me isolar, ficar
mais quieta e desistir de querer sempre chegar a algum lugar.
Me prometi a não fazer mais planos e me distrair com eles o tempo
todo. Me prometi a me suportar sem eles. E tem dado certo. A mente vai
clareando, os sentimentos e as emoções vão ficando mais nítidos e você começa a
saber afinal quem é você de verdade. Começa a apagar com uma borracha toda
aquela figura que você criou meio borrada, meio estranha e devagarinho começa a
desenhar, a delinear uma nova pessoa.
Em uma outra época, eu pensaria assim: "nossa, que pena eu
não ter me dedicado ao autoconhecimento mais cedo". Mas não é bem assim.
Tudo tem a hora certa pra acontecer. Tudo que passamos, todas as dificuldades
que vêem são experiências para nos levar a ele. Só através delas é que
aprendemos mais sobre nós mesmos.
Por mais desafiante que isso seja, saímos mais fortes, mais
equilibrados, mais confiantes, porque aprendemos a nos conhecer, a lidar melhor
com nossos próprios sentimentos e emoções. Aprendemos a não permitir mais que
eles nos controlem e passamos a ser donos de nossas emoções. É essa a
verdadeira lição da vida.
Quando isso acontece, nos enriquecemos, nos perdoamos e passamos a
nos ver como um velho amigo, que se conhece profundamente. A partir da nossa
própria dor, vamos nos tornando os mestres da nossa vida, os mestres das nossas
emoções, daquilo que sentimos e como reagimos.
Uma das mais duras provas da vida é a falta de aceitação com
aquilo que somos e assim, para não sofrer, ficamos desfilando personagens
falsos nesse teatro da vida. Não contamos que muitas vezes o espelho nos coloca
diante de nós mesmos, de nossas carências, daquilo que sempre acreditamos ser
mas não somos, a dor vem e derruba tudo, como as cartas de um baralho.
Essa é a lição da vida, abaixar o orgulho, que se veste de uma
máscara para se proteger, por medo de se entregar e sofrer. Aprender a ter
humildade diante de nossas escolhas, de nossos sentimentos, para que ao menos
possam ser verdadeiros. Humildade para aceitar quem somos de verdade.
No fundo, no fundo, a busca de todos nós é a busca pela liberdade.
Mas não para sermos livres diante do mundo, mas sim para sermos livres para nós
mesmos. Vale a pena buscar por essa liberdade de sermos verdadeiros e
autênticos para sentir tudo aquilo que somos. Vale a pena buscar por essa
coragem de sermos livres para ser e amar tudo aquilo que somos.
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